Uma palavrinha

Madu
3 min readFeb 14, 2024

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Recentemente, no “aplicativo ao lado”, um seguidor compartilhou um vídeo que me chamou muita atenção. Nele, um rapaz dizia algo como:

Todas as coisas que você está vivendo nesse momento estão te forjando para te tornar quem você foi criado para ser.

Chata ou questionadora como sou, fiquei matutando essa frase por algumas boas horas. Esse texto é resultado de alguns encaminhamentos a respeito [não necessariamente conclusões].

Fico imaginando o quão incessantemente intencionadas as coisas precisariam ser para terem esse pano de fundo que imagino que o rapaz estava se referindo...

Gosto de supor que nem tudo que acontece conosco tem ares de uma grande empreitada, e muitas vezes, aliás, trata-se somente da vida acontecendo exatamente como ela é — imprevisível, por vezes difícil e sem dúvida inconstante, não com a necessidade de “a gente se tornar alguma coisa” em seguida.

Nem toda experiência é propositada para algo maior. Com isso, não estou afirmando que as coisas não podem nos ensinar algo ou nos modificar e melhorar, se assim quiserem pensar, mas o meu ponto é que: se você faz isso sobre todas as coisas que te acontecem, corre-se o risco de atribuir a elas um peso muito maior do que aquele que elas precisam ter para esse momento da sua vida. Então, uma experiência que muitas vezes basta-se como tal — mas que acontece porque a vida acontece — se torna uma grande lição de vida, e ai de você se não conseguir lidar com ela!, quando, muitas vezes, tudo que lhe era necessário fazer era se sentir um pouco frustrado, ou qualquer coisa, e depois seguir. Sabe?

“Eu quando finalmente decido relaxar”. A tradução mais livre que vocês puderem imaginar.

Basta pensar o seguinte: se você fica nessa neura de achar que todas as coisas que você está vivendo estão decididamente acontecendo com o intuito de você se desenvolver — se forjar, nos termos do moço — para o que você foi criado, isso nos leva à possibilidade de atingir um estágio na vida que você vai estar tão “melhorado” (depois de cumprir o grande propósito com o que te aconteceu) que não será mais necessário nenhum incremento. Isso soa justo dentro dos sentidos que nos tornam humanos?

Li em algum lugar que somos um projeto inacabado até o fim das nossas vidas, e por causa disso não há como uma experiência nos acontecer (mesmo, repito, que seja útil para evoluirmos) e se bastar em si mesma, porque isso significaria dizer que a vida não vai mais continuar se manifestando, que você poderia nunca mais viver as mesmas coisas já que obteve delas o resultado proposto — quando às vezes pode só pelo fato de estar vivo.

Aliás, meu ponto não é criticar a crença da criação intencional, a existência de alguém para tal propósito, porque isso serve de meta e resolução para muitas pessoas, e portanto pode ser bastante positivo. Meu destaque é nas implicações dessa quantidade exacerbada de sentidos. Não me parece possível imaginar que ao fim de qualquer experiência, quando você finalmente for “forjado” pelos acontecimentos, você atingirá esse estágio que mencionei, em que se alcança uma plenitude de entendimento e, pasme, daí para frente é só para o céu!

Experimente dar ares de banalidade à vida — asseguro que, nos casos possíveis, torna “tudo” um pouco mais leve.

Madu.

[UM ADENDO]:

Por mais que pareça paradoxal, pensar também que nem tudo que nos acontece diz, irredutivelmente, respeito a nós mesmos, pode ser um grande alívio na jornada! :)

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Madu

Pernambucana, aspirante a escritora, nas nuances da transformação. Na mira do amor e da dor.